De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast), constatou-se que somente 23,1% dos resíduos plásticos pós-consumo no Brasil foram reciclados no ano de 2020. Esse número representa uma redução de menos de 1 ponto percentual em relação ao ano anterior, refletindo o primeiro ano da pandemia da Covid-19.
O estudo é realizado anualmente desde 2018 pela MaxiQuim, uma empresa especializada em análise de mercados e competitividade na indústria química, com o objetivo de mensurar o tamanho da indústria de reciclagem de plásticos no Brasil e acompanhar sua evolução anual.
Volumes de resíduos plásticos consumidos no Brasil:
Segundo o estudo, em 2020, foram consumidas 1,4 milhão de toneladas de resíduos plásticos na reciclagem, representando um crescimento de 5,8% em comparação a 2019. Desse total, um milhão de toneladas provêm de plástico pós-consumo, ou seja, material descartado em domicílios residenciais e em locais como shoppings centers, estabelecimentos comerciais, escritórios, entre outros, e 368 mil toneladas de plástico pós-industrial, como sobras dos processos da indústria petroquímica, de transformação de plásticos e da própria reciclagem de plásticos.
Do montante total de resíduos consumidos na reciclagem, 960 mil toneladas referem-se a utensílios de uso único, categoria que abrange embalagens e outros tipos de descartáveis. Esses produtos foram os que mais passaram pelo processo de beneficiamento, representando 68,5% do total reciclado em 2020, conforme demonstrado no gráfico abaixo.
“Os resíduos consumidos provenientes de artigos de uso único, como embalagens e descartáveis, aumentaram proporcionalmente em sua participação no total consumido. Os descartáveis mais relevantes, que justificam os 6,2% de participação, são as sacolas plásticas e utensílios “stay at home”, como copos, talheres, recipientes de alimentação, etc.”, explica Solange Stumpf, sócia da MaxiQuim.
Perdas no processo:
O principal motivo de perdas no processamento ainda é a contaminação da sucata plástica com materiais indesejados, o que ocorre devido à dificuldade na triagem. No entanto, o estudo observou que, além do aumento da produção de pós-consumo, outro fator que contribuiu para perdas maiores em comparação ao ano anterior foi o deslocamento para resíduos de origem doméstica, em detrimento aos de origem não-doméstica, que costumam ser mais limpos. No total, foram perdidas 168,8 mil toneladas de material durante os processos de reciclagem, um aumento de 24,5% em comparação a 2019. O PET é o material que mais sofreu perdas, devido também ao seu alto volume de consumo.
“Cabe ressaltar ainda que, com a pandemia, muitos recicladores pequenos, que adquiriam os rejeitos de sucata de recicladores maiores, ficaram muito tempo sem operar, o que contribuiu para maiores perdas efetivas na conversão de entrada da matéria-prima (sucata) para a saída (produto reciclado)”, explica Solange.
Produção de Resina Reciclada:
Apesar dos desafios, houve um aumento significativo na produção de resina reciclada, com um crescimento de 12,2% em relação a 2018. Em 2020, 72% da produção de plásticos reciclados no país provieram de resíduos pós-consumo, enquanto 28% foram de resíduos pós-industriais. Em 2018, o plástico pós-consumo representava 69% das resinas recicladas. No total, foram fabricadas 1,2 milhão de toneladas de resinas recicladas em 2020.
Entre as 884 mil toneladas de resinas pós-consumo recicladas no ano passado, 41,4% foram de PET, seguidas por PEAD (19%), PP (16,7%) e PEBD/PELBD (16,1%). Em 2019, os índices foram bem parecidos: 42% PET, 18,2% PEAD, 16,5% PEBD/PELBD e 15,8% PP.
Das 366 mil toneladas de PET reciclado, 30% foram aplicadas em frascos e garrafas em geral, para produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica. Já a construção civil (22%) e as utilidades domésticas (15%) foram os principais destinos do PEAD reciclado. Por sua vez, 33% das resinas PP recicladas foram aplicadas na fabricação de utilidades domésticas, como baldes, bacias, lixeiras, entre outros.
Produção de resina pós-consumo por região:
A região Sudeste é responsável por 55,6% da produção, com 492 mil toneladas, seguida pela região Sul (241 mil toneladas), Nordeste (95 mil toneladas), Centro-Oeste (43 mil toneladas) e Norte (11 mil toneladas). Comparado com 2019, apenas a região Norte apresentou queda (-2,7%) na produção de resina pós-consumo.